Sumário

Como citar:
MIRANDA, Jair Martins de. Samba global: o devir-mundo do samba e a potência do carnaval do Rio de Janeiro - análise das redes e conexões do samba no mundo, a partir do método da cartografia e da produção rizomática do conhecimento / Jair Martins de Miranda - Rio de Janeiro, 2015, disponível em: http://sambaglobal.net/web-tese/

Web-Tese – Samba Global     Autor: Jair Martins de Miranda       Orientador: Prof. Dr. Giuseppe Cocco

PONTO DE VISTA 6 – SAMBA GLOBAL – Rede Internacional de Samba e Carnaval

Visando aferir a premissa de que os agentes do mundo do samba – tendo a cidade do Rio de Janeiro como referência – estabelecem pouca conexão com os agentes do samba no mundo – tendo a consolidação da Rede Internacional de Samba e Carnaval e a expansão do samba em outros países como alcance -, optei pelo relato histórico da minha vivência para estudar as conexões, redes sociais e comunidades virtuais no mundo do samba e do carnaval e suas possíveis formas de transferência, apropriação e reprodução de informações, documentos, conhecimentos e saberes entre esses dois mundos, ou seja: entre o “mundo do samba” e o “samba no mundo”.

Tendo como fonte um histórico dessas vivências nas relações sociais com alguns atores do samba e do carnaval – nesses dois mundos –, em seus vários eventos presenciais e em seus vários sites, listas de discussão, e-mails e em suas várias comunidades virtuais, exercitei uma observação participante dessas relações e, ao refletir sobre elas, tendo Norbert Elias, Pierre Bourdieu, Regina Marteleto, Caroline Haythorntwaite e Raquel Recuero como referência, busquei também analisar sobre o quanto as redes ou relações sociais presenciais (ou offline) no mundo tradicional de comunidades do samba e do carnaval – especialmente no Rio de Janeiro – foram ou são afetadas pela Internet e suas redes sociais virtuais (ou online), ou por suas comunidades na web. Notadamente, reflexões sobre as trocas culturais, materiais e de trabalho no mundo contemporâneo.

Com uma abordagem prévia de caráter etnográfico[1], esse histórico de vivências envolveu relações com pessoas, grupos e instituições de diferentes atividades, segmentos sociais e nacionalidades, que direta, indireta ou transversalmente atuam nesses dois mundos do samba e do carnaval. São vivências pessoais e profissionais que se mesclaram com as vivências do pesquisador, dos pesquisados e do campo estudado, se afetando e se interferindo mutuamente, como é próprio do método etnográfico. Resumida e cronologicamente, elas se realizaram assim:

1 – Essa vivência tem início em 1997 com a minha inscrição e participação na extinta lista de discussão “Sambistas List”[2] (sambistas@lists.projectcolo.org.uk) – , criada em Edinburgo pelo sambista Ian Heavens. Existiu até 2012 quando encerrou suas atividades e estas foram assumidas pela UKSA – UK&Irish Samba Association (http://www.uksamba.org/) e transferida para a lista de discussão “Sambistas List UK” (sambistas_List_UK@yahoogroups.com );

Fig. 31 – Página da UK&Irish Samba Association

Fig. 31 – Página da UK&Irish Samba Association

2 – Prosseguiu em 1998, no meu relacionamento com sambistas estrangeiros, convidados pela lista de discussão “Sambistas List” para uma oficina de percussão e a criação do Bloco Tem Gringo no Samba, no Espaço Cultural Arco da Velha, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro – e nos ensaios e desfiles do bloco nos carnavais de 1998, 1999 e 2000 – São eles, a cantora francesa Anne Gaultier, os percussionistas alemãs Nana Zeh e Christoph Renner, o músico belga Michel Tasky, o cavaquinhista alemão Dietrich Kollöffel, o violonista japonês Ken Aso e os alunos-foliões Chris Graham, Nikki Kemp, Giselle Winston (Inglaterra), Cristina Verga (Argentina) Marie Carlsson, Christina Hök (Suécia) e Franco Cavas (Italo-brasileiro);

Fig. 32 – Matéria e Cartaz sobre o lançamento do Bloco Samba Global

Fig. 32 – Matéria e Cartaz sobre o lançamento do Bloco Samba Global

3 – Em 1998, quando da minha participação no Nothing Hill Carnival, em Londres, à convite da Diretora Chris Graham, da London School of Samba (http://londonschoolofsamba.co.uk/ );

Fig. 33 – Home page da London School of Samba

Fig. 33 – Home page da London School of Samba

4 – Em 1999, durante as muitas consultas aos extintos sites dos projetos “World Samba” (http://worldsamba.org) e “IFoS – International Federation of Sambistas” (http://worlssamba.org/IFoS), criados pelo sambista americano David Histler.

5 – No carnaval do ano 2000, participando da convocação[3], dos ensaios, da organização e do desfile da “Escola de Samba Unidos do Mundo”, no Sambódromo do Rio de Janeiro, por iniciativa da IFoS – International Federation of Sambistas;

Fig. 34 – Home Page da IFoS - International Federation of Sambistas

Fig. 34 – Home Page da IFoS – International Federation of Sambistas

6 – Em 2001, com a minha inscrição na Lista de Discussão Rio-Carnaval (rio-carnaval@yahoogrupos.com.br), criada no Rio de Janeiro em 1998, pelo Pesquisador Felipe Ferreira.

7 – Em setembro de 2004, na organização, via internet e “Sambistas List”, do evento “Largest Simultaneos Percussion Performance”, proposto pelo sambista inglês Mike Cowley, em homenagem ao compositor Silas de Oliveira[4];

Fig. 35 – Folheto do evento “Largest Simultaneos Percussion Performance”

Fig. 35 – Folheto do evento “Largest Simultaneos Percussion Performance”

8 – Em tour na Europa em 2005, participando dos carnavais e festivais de samba em Helsinki, à convite da Association of Samba Schools in Finland – HSC (http://www.helsinkisambacarnaval.fi/), em Paris, e Marsele, à convite da produtora Saravá Brasil (http://www.saravabrasil.com/); em Coburg, à convite da produtora Sambaco (http://www.samba-festival.de/), em Londres, à convite da Paraiso Samba School (http://www.paraisosamba.co.uk/) e em Los Angeles, à convite da SambaLA Samba School (http://www.sambala.org/site/);

Fig. 36 - Home page de eventos e escolas de samba na Eurora e USA

Fig. 36 – Home page de eventos e escolas de samba na Eurora e USA

9 – Em 2006, com a criação do site Samba Global (www.sambaglobal.net) pelo CRIAR – Centro de Referência em Artes, Entretenimento e Cultura Brasileira;

Fig. 37 – Primeira Home Page do Projeto Samba Global

Fig. 37 – Primeira Home Page do Projeto Samba Global

10 – Também em 2006, com a criação pelo CRIAR – Centro de Referência em Artes, Entretenimento e Cultura Brasileira, da primeira edição do evento anual “Encontro Internacional de Samba e Carnaval” – e sua continuidade ininterrupta até a nona edição em 2014 (http://sambaglobal.net/9encontro/index.html);

Fig. 38 – Hote site do 9º Encontro Internacional de Samba e Carnaval

Fig. 38 – Hote site do 9º Encontro Internacional de Samba e Carnaval

11 – Em tour na Europa em 2007, participando de festivais de samba em Coburg, à convite da produtora Sambaco (http://www.samba-festival.de/), em Hamburg, à convite da Escola de Samba Unidos de Hamburgo (http://udhh.jimdo.com/), em Berlim, à convite da “Escola de Samba Sapucaiu no Samba” (https://sapucaiu.de/) e em Estocolmo, à convite dos grupos “Samba de Souza” (http://www.sambadesouza.se/) e do “ GRBC Maravilha do Samba” (http://www.maravilha.se/)

Fig. 39 – Home Pages de eventos e escolas de samba na Europa em Tour em 2007

Fig. 39 – Home Pages de eventos e escolas de samba na Europa em Tour em 2007

12 – Em 2007, participando do Asakusa Samba Carnilval, em Tóquio, à convite da AESA (http://www.aesa.jp/ ) e da Escola de Samba Saude (http://gressaude.com/). Participação que se estendeu nos carnavais de 2008, 2009, 2010 e 2013;

Fig. 40 – Home Pages de eventos e escolas de samba no Japão

Fig. 40 – Home Pages de eventos e escolas de samba no Japão

13 – Em Tour na Espanha em 2008, apresentando em Salamanca, a comunicação “Samba Global” no X Congresso da Sociedade Internacional de Etnomusicologia, sob o tema: Música, ciudades, redes: creacíon musical e interacón social; E em Madri, participando de espetáculo de samba, à convite do Bloco do Baliza (http://www.blocodobaliza.com/index.php#popup)

Fig. 41 - Home Pages de evento e do Bloco do Balisa em Madri

Fig. 41 – Home Pages de evento e do Bloco do Balisa em Madri

14 – Em 2010, com a minha inscrição na Lista de Discussão “Samba-France” (samba-france@yahoogroupes.fr), criada pelo site “Samba em France” (http://sambistas.online.fr/en-france/index.php?title=Accueil).

Fig. 42 - Home Pages da lista de discussão Samba France

Fig. 42 – Home Pages da lista de discussão Samba France

15 –Em 2012, com a minha inscrição no grupo “World Samba” (https://www.facebook.com/groups/6997421081/ ) da rede social Facebook,

Fig. 42 - Home Pages da Grupo World Samba

Fig. 42 – Home Pages da Grupo World Samba

16 – Em 2013 no Festival “Only Brazil” em Seoul, à convite da produtora SWEET SOUND ( http://sweetsound.kr/ );

Fig. 43 - Home Pages do evento Only Brazil

Fig. 43 – Home Pages do evento Only Brazil

17 – Em 2013, na criação da “Rede de Agentes de Samba e Carnaval” através do Projeto Portal do Carnaval (www.portaldocarnaval.net.br). Um projeto da UNIRIO (www.unirio.br), com apoio inicial do SEBRAE (http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/) e FINEP (http://www.finep.gov.br/), em parceria com a “LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro” (http://liesa.globo.com/), a LIERJ – Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (http://lierj.com.br/), a AESCRJ – Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (https://www.facebook.com/Aescrj?rf=184827038252876), a SEBASTIANA – Associação Independente dos Blocos de Carnaval e Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (http://www.sebastiana.org.br/index.php), a FBCERJ – Federação dos Blocos Carnavalescos do Estado do Rio de Janeiro (http://www.federacaodosblocos.com/ ) e AMEBRAS – Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil (http://www.amebras.org.br/ )

Fig. 43 - Home Pages do Projeto Portal do Carnaval

Fig. 43 – Home Pages do Projeto Portal do Carnaval

Fig. 44 - Home Pages dos parceiros do Projeto Portal do Carnaval

Fig. 44 – Home Pages dos parceiros do Projeto Portal do Carnaval

Assim, através dessas vivências e das relações sociais com essas pessoas, grupos e instituições acima apontadas e tendo como referência os modelos interpretativos da “Análise de Redes Sociais – ARS[5], conduzimos as reflexões, análises e proposições sobre as redes sociais nesses dois mundos do samba e do carnaval, nos seguintes níveis de análise:

Agentes sociais – pessoas, grupos e instituições (ou os nós da rede),

Vínculos ou laços (fracos e fortes) entre agentes,

Fluxos e trocas de informação, conhecimento, saberes e afetos entre agentes.

Agentes sociais na rede de samba e carnaval

Para um melhor entendimento sobre os vários agentes sociais que configuram as redes sociais no mundo do samba e do carnaval no nosso campo de análise se fez necessário, de início e para efeito didático, agrupá-los em três categorias, ou seja: de profissionais, grupos e instituições, indicando suas respectivas atividades, que assim se apresentam:

Profissionais

Ian Heavens – sambista e tecnólogo inglês, criador da “Sambistas List”

Anne Gaultier – cantora francesa,

Nana Zeh e Christoph Renner – percussionistas alemãs

Michel Tasky – músico belga

Dietrich Kollöffel – cavaquinhista alemão

Ken Aso – violonista japonês

Nikki Kemp e Giselle Winston – percussionistas inglesas

Franco Cavas – compositor Italo-brasileiro

Chris Graham – sambista inglesa

Cristina Verga – sambista argentina

Marie Carlsson e Christina Hök – sambistas/dançarinas suecas

David Histler – sambista e tecnólogo americano, criador do site “World Samba”

Felipe Ferreira – pesquisador brasileiro, criador da lista “Rio-Carnaval”

Mike Cowley – sambista inglês

Grupos

Grupo “Samba de Souza” (http://www.sambadesouza.se/)

Grupo Maravilha do Samba” (http://www.maravilha.se/)

Bloco Tem Gringo no Samba

Bloco do Baliza (http://www.blocodobaliza.com/index.php#popup)

Grupo “World Samba” (https://www.facebook.com/groups/6997421081/ )

Instituições

UKSA – UK&Irish Samba Association (http://www.uksamba.org/)

Espaço Cultural Arco da Velha

London School of Samba (http://londonschoolofsamba.co.uk/ )

IFoS – International Federation of Sambistas”

Association of Samba Schools in Finland (http://www.helsinkisambacarnaval.fi/)

Produtora Saravá Brasil (http://www.saravabrasil.com/)

Produtora Sambaco (http://www.samba-festival.de/)

Paraiso Samba School (http://www.paraisosamba.co.uk/)

SambaLA Samba School (http://www.sambala.org/site/)

CRIAR – Centro de Referência em Artes, Entretenimento e Cultura Brasileira

Escola de Samba Unidos de Hamburgo (http://udhh.jimdo.com/)

Escola de Samba Sapucaiu no Samba (https://sapucaiu.de/)

Associação das Escolas de Samba de Asakusa – AESA (http://www.aesa.jp/ )

Escola de Samba Saude (http://gressaude.com/)

Associação “Samba em France” (http://sambistas.online.fr/en-france/index.php?title=Accueil)

Produtora SWEET SOUND ( http://sweetsound.kr/ )

UNIRIO (www.unirio.br)

SEBRAE (http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/)

FINEP (http://www.finep.gov.br/)

LIESA (http://liesa.globo.com/)

LIERJ (http://lierj.com.br/)

AESCRJ (https://www.facebook.com/Aescrj?rf=184827038252876)

SEBASTIANA (http://www.sebastiana.org.br/index.php)

FBCERJ (http://www.federacaodosblocos.com/ )

AMEBRAS (http://www.amebras.org.br/ )

Nosso entendimento – para a noção de agentes em redes sociais no samba e carnaval- é que essas pessoas, grupos e instituições – nesse pequeno universo acima agrupadas -, formaram no período apontado e no âmbito daquela vivência historiada, os elos (ou os nós) de uma intensa rede de relações sociais na Internet, com vínculos – ou interações – maiores ou menores entre elas. Avalia-se que o advento da Internet, o início do seu uso não empresarial no Brasil e no mundo e, o trabalho pioneiro do sambista e tecnólogo inglês Ian Heavens[6] na criação da “Sambistas List”, em 1997, seguido da criação da lista de discussão “Rio-Carnaval”, do professor e pesquisador Felipe Ferreira e da página “World Samba”, do sambista e tecnólogo americano David Histler, foram decisivos para a consolidação e intensificação das relações sociais na internet em torno do samba e do carnaval brasileiro, tanto para o mundo do samba – mais interno ao Brasil e ao Rio de Janeiro -, como para o samba no mundo – em países e cidades fora do Brasil.

Relações sociais essas, que “offline” sempre existiram em intensidade no Brasil e no mundo, mas que passaram a utilizar a internet como um novo recurso de comunicação, dando início à criação de novas relações “online”, além da criação de vínculos e de comunidades virtuais, que poderiam ou não se tornar presenciais ou se encontrar em eventos “off-line”, a exemplo do desfile da “Escola de Samba Unidos do Mundo” e da oficina do “Bloco Tem Gringo no Samba”, que só existiram a partir de uma convocação pela internet.

Quanto aos grupos, além do “Bloco Tem Gringo no Samba” e os listados acima e usados como referência de grupos em redes sociais, avalia-se que as próprias listas de discussão já se constituíam enquanto grupos temáticos na internet e, portanto, não só intensificaram a relação dos membros daqueles grupos já existente com a temática do samba e do carnaval brasileiro como proporcionaram a criação de outros.

Quanto às instituições com presença na Internet dentro do nosso campo de estudo e, em especial quanto às listas de discussão, observa-se, após a desativação da “Sambistas List”, uma tendência ao uso regionalizado dessas listas. É o caso da “Sambistas List UK”, voltada mais para os usuários do Reino Unido ou de países de língua inglesa e, da lista de discussão “Samba-France”, voltada mais para usuários da França ou de países de língua francesa.

No entanto, mais recentemente, com o advento da web2, inaugurando a segunda fase da internet, as listas de discussão foram consideradas ultrapassadas por grande parte desses agentes de samba e carnaval: tanto profissionais, como grupos e instituições criaram nos seus próprios sites institucionais, blogs ou grupos nos sites de redes sociais (Facebook, Twitter, etc) com as funcionalidades de interatividades e formação de novos grupos de sambistas. como é o caso da página “World Samba” instalada no Facebook, que embora se utilize desses novos recursos tecnológicos, não parece ter o mesmo dinamismo e frequência de uso que tinham a extinta lista “Sambistas List” e o extinto site “World Samba”.

Vínculos ou laços entre agentes.

Uma análise não exaustiva e não quantitativa nas listas de discussões, nos grupos instalados no Facebook e nos sites institucionais de agentes de samba e carnaval, dão conta de que os vínculos entre esses agentes, configuram nós que se mostram muito concentrados em regiões e países que tem em comum a mesma língua. São pequemos mundos, na forma de clusters[7], interligados por poucos agentes que normalmente se comunicam em uma ou mais línguas, mesmo sendo a língua inglesa, a mais universal e praticada entre essas listas e sites na internet. Os sambistas ingleses, franceses, alemães, filandeses e japoneses, incluindo os brasileiros, por exemplo, perecem viver mundos a parte, embora tenham o samba e os sambistas brasileiros como o elo de ligação e intermediação entre eles.

Fluxos e trocas de informação, conhecimento, saberes e afetos entre agentes

Uma análise preliminar nas listas de discussão e sites institucionais e de redes sociais indicam que, mesmo com as barreiras de comunicação provocados pela língua, é crescente os fluxos e trocas de informação entre esses clusters estrangeiros e o cluster brasileiro. Eles ocorrem quase sempre através dos intermediadores, que traduzem essas informações para os agentes desses pequenos mundos.

Impactados pela velocidade cada vez maior das tecnologias de transporte de dados das bandas largas, pelo fenômeno da convergência digital – especialmente nos documentos audiovisuais – e do comercio eletrônico, esses fluxos e trocas de informação, passaram a se constituir também em fluxos e trocas de conhecimento, de saberes, de afetos e produtos no mundo contemporâneo, em geral, mas mundo do samba e do carnaval, em especial.

Portanto, o que se observou dessa vivência e dessa análise, especialmente quando se analisa os sites das ligas e associações de escolas de samba e blocos – que, por exemplo, não têm versão em inglês – atesta a nossa premissa de que os agentes do mundo do samba – tendo a cidade do Rio de Janeiro como referência, de fato, estabelecem pouca conexão com os agentes do samba no mundo, desconhecem em geral a dimensão da expansão do samba em outros países e não capitalizam o potencial e as oportunidades que se apresentam para ofertas de trabalho, além das trocas de informação, acervos digitais, conhecimento e saberes em torno do samba e do carnaval no mundo.

Baseado em toda essa vivência e nessa análise – já que atuamos com pesquisa-intervenção -, propusemos, então, à Finep, ao Sebrae e às associações de escolas de samba e blocos, a partir da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – NIRIO, a criação e manutenção da “Rede de Agentes de Samba e Carnaval” – instalada no Portal do Carnaval (www.portaldocarnaval.net.br) -, a partir do Sistema de Informação Sociocultural – SISC”.

Fig. 45 – Modelo Conceitual do Sistema de Informação Sociocultural

Fig. 45 – Modelo Conceitual do Sistema de Informação Sociocultural

Esquematicamente, o SISC começa e termina no Agente Cultural – pessoas, grupos ou instituições – que têm alguma ação na área cultural. Esses agentes, enquanto produtores e consumidores de cultura, desenvolvem atividades profissionais ou institucionais em suas Áreas de Atuação. Para realizarem essas atividades, os agentes culturais criam Projetos Culturais. A consecução desses projetos depende da alocação de recursos advindos de várias fontes. Uma vez viabilizados, esses projetos se efetivam em uma Produção Cultural, que tanto pode ser oferecida a um público e/ou a um mercado sob a forma de Produtos, Serviços e/ou Eventos. Toda essa produção é veiculada através do que convencionamos definir como Espaços ou Equipamentos Culturais. Esses Equipamentos presentes em maior ou menor quantidade em cada região, formam o que denominamos Contextos Socioculturais, ambientes que em âmbito de país, estado, cidade, bairro ou comunidade – sedimentam valores, legados e acervos dos seus agentes culturais – enquanto habitantes, produtores e consumidores de cultura – reafirmando, assim, as suas memórias e singularidades culturais, mesmo na era digital.

Ao considerar essas memórias e singularidades no mundo contemporâneo, o sistema aceita as hibridizações culturais do samba no mundo. Ou seja, um samba global que é ao mesmo tempo local e global: samba de roda na Bahia ou Partido Alto no Rio de Janeiro, ou vice-versa. No Portal do Carnaval o sistema usou o Google Maps – no link “Samba no Mundo” – como recurso de localização geo-referencial desses agentes culturais do segmento de samba e carnaval nesses dois mundos: local e global.

Fig. 46 – Pagina Samba no Mundo na home page Portal do Carnaval

Fig. 46 – Pagina Samba no Mundo na home page Portal do Carnaval

A proposta do Projeto Portal do Carnaval foi aprovado em edital público pelo convênio Sebrae/Finep, o Portal foi criado, mas ele exigiu uma infra-estrutura tecnológica que a UNIRIO não pode oferecer. Ele requer também, para a sua manutenção e crescimento, o desenvolvimento de uma linguagem comum que facilite essas trocas de informação, conhecimento e saberes entre o mundo do samba e o samba no mundo e, que permita também capturar toda a potência das relações sociais offline do samba e do carnaval, que as redes sociais online, por si só, não conseguem efetivar. Entendemos que a web-semântica e o desenvolvimento de uma “Ontologia do Samba”, como apontadas no Ponto de vista 2 – podem ser essa linguagem comum.

[1] O uso da ARS – Análise de Redes Sociais para o presente estudo se mostrou mais adequada em um segundo momento, quando o escopo das relações entre os atores dessa rede social estiver mais definido num Sociograma e as fontes de informação sobre ela estiverem mais acessíveis para uma análise tanto quantitativa como qualitativa.

[2] Considerada a Lista de discussão sobre samba mais antiga na Internet, tem parte do seu arquivo de mensagens acessível no endereço: https://groups.google.com/forum/#!forum/sambistasarchive

[3] Importante registrar que essa Escola de Samba pretendeu a união de todos os sambistas do mundo e teve seus membros convocados através da internet, para comemorar presencialmente no Sambódromo a chegada do novo milênio.

[4] Através de uma convocação pela internet, esse evento também teve a pretensão de reunir todos os sambistas e percussionista do mundo, mas em vários locais do planeta, para simultaneamente executar o samba enredo “Aquarela Brasileira”, em homenagem a Silas de Oliveira.

[5] Conforme proposta metodológica de Regina Marteleto para análise de Redes Sociais para a área de Saúde.

[6] Veja mais sobre Ian Heavens em: http://homepage.ntlworld.com/david.cavalla/ian/index.htm

[7] Na terminologia usada na ARS – Análise de Redes Sociais -, Clusters são aglomerados de nós com maior densidade de conexões

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