Sumário

Como citar:
MIRANDA, Jair Martins de. Samba global: o devir-mundo do samba e a potência do carnaval do Rio de Janeiro - análise das redes e conexões do samba no mundo, a partir do método da cartografia e da produção rizomática do conhecimento / Jair Martins de Miranda - Rio de Janeiro, 2015, disponível em: http://sambaglobal.net/web-tese/

Web-Tese – Samba Global     Autor: Jair Martins de Miranda       Orientador: Prof. Dr. Giuseppe Cocco

PONTO DE VISTA 5 – O SAMBA NO MUNDO

Neste quinto ponto de vista “O samba no mundo” buscamos estudar a expansão do samba no mundo de forma a entender as razões e motivações dessa expansão e posteriormente confrontar e integrar esse samba no mundo às questões daquele “mundo do samba” ambientado internamente no Brasil e visto a partir da cidade do Rio de Janeiro.

 

Para esse estudo, optamos por estabelecer uma rede de relações sociais para a observação direta desse fenômeno, inicialmente através das relações sociais online, ocorridas nas listas de discussões e redes sociais na internet – como apontado no Ponto de vista 6 – Rede Internacional de Samba e Carnaval -, que foram seguidas de entrevistas e depoimentos de sambistas “estrangeiros” sobre essa realidade nas viagens internacionais de observação que fizemos e, nos encontros internacionais de samba e carnaval realizados antes e durantes os carnavais da cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 2006 a 2014, como mostra os registros de viagem no quadro “O Samba no Mundo” abaixo:

 

O SAMBA NO MUNDO – Registros de Viagem

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Quadro 6 - Registros de viagem do samba no mundo

Quadro 6 – Registros de viagem do samba no mundo

 

Além das viagens de observação, essa vivência envolveu também a realização de nove encontros de debate e intercâmbio com sambistas estrangeiros no Rio de Janeiro, antes e durante os carnavais de 2006 a 2014, a saber:

 

Quadro 7 - Encontros Internacionais de Samba e Carnaval no Rio de Janeiro

Quadro 7 – Encontros Internacionais de Samba e Carnaval no Rio de Janeiro

Essas vivências, usadas também como recurso da pesquisa-intervenção, foram importantes não só para aferir, mas também para refletir sobre a expansão do samba no mundo. À observação direta foi acrescida com a gravação em vídeo de alguns eventos, carnavais e festivais de samba em cidades da Finlândia, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Suécia, Japão e Coreia do Sul, e na realização de entrevistas com alguns agentes dessa rede do samba e do carnaval brasileiro fora do Brasil. Teve como resultado e fontes para a pesquisa, os vídeo-documentários “Projeto Samba Global”[6], Samba para Japonês ver”[7], “Samba e Paixão no Japão”[8], “Samba e Carnaval – Tradição e Paixão Mundial”[9] e “Samba in Seoul”[10]

 

Quadro 8 - Videodocumentários sobre o samba no mundo

Quadro 8 – Videodocumentários sobre o samba no mundo

 

 

         Como pode ser aferido nos vídeos de eventos e entrevistas empreendidos nesta pesquisa, o carnaval do Rio de Janeiro, de fato, é hoje considerado o maior do planeta e, consequentemente, vem influenciando muitos outros carnavais no mundo. A instituição carnaval é milenar como bem nos mostra o pesquisador Hiram Araújo[11], no entanto, com o advento dos desfiles oficiais das escolas de samba no Rio de Janeiro, foi cada vez mais reproduzido a cultura do samba nos vários carnavais do Brasil e do mundo.

 

Observamos que a consagração internacional da cultura popular brasileira deu-se, em grande parte[12], através das escolas de samba, que é a maior manifestação de arte em prol da vontade do povo de se divertir, de festejar a vida. Criada pelos setores marginalizados da sociedade, moradores do centro e dos morros da periferia da cidade do Rio de Janeiro, essas escolas se organizaram principalmente para o Carnaval, divulgando o samba para o mundo, não só como gênero musical, mas também como manifestação cultural integral, na medida em que envolveram a dança, o teatro, a literatura, as artes plásticas, a culinária e principalmente, aquele Alegria, que faz a diferença dessa festa, que é tradicional e milenar.

 

Portanto, não foi surpresa perceber a forte influência do samba no “Helsinki Samba Carnaval”, na Finlândia; nos “Samba Parade Paris” , “Samba Parade Marseille” e “Samba Parade Toulouse”, na França; no “Coburg Internacional Samba Festival”, na Alemanha, no “Notting Hill Carnival”, na Inglaterra; no “Asakusa Samba Carnival” em Tókio, Japão; no “Brasilian Street Carnival”, em Los Angeles, no “California Brazil Camp”, em Cazadero, EUA e, em inúmeros outros carnavais e festivais de verão já consagrados em várias partes do mundo.

 

Vários fatores são usados para explicar essa expansão fenomenal do carnaval brasileiro e do samba no planeta nos últimos anos, mas, em síntese, podemos destacar o próprio fenômeno das redes sociais, que fez surgir, na Internet, uma rede mundial de sambista; a transmissão, ao vivo, do carnaval do Rio de Janeiro para mais de 100 países e 300 milhôes de domicílios pela Rede Globo Internacional; a contribuição da FEEC na internacionalização dos carnavais europeus[13] e, os próprios festivais internacionais de samba, criados ou sugeridos muitas vezes, por brasileiros ou sambistas que migraram para outros países em busca de trabalho ou asilo político[14].

 

Sobre esse aspecto, é crescente no mundo uma demanda pelo trabalho de sambistas e carnavalescos brasileiros. Há um interesse grande e generalizado, principalmente na Europa, Japão e Estados Unidos, pelo Carnaval brasileiro. Este interesse se traduz na constituição de grupos de amigos que formam conjuntos carnavalescos (clubes, sociedades, escolas de samba, grupos musicais, grupos de dança, etc) de dimensões variadas e que organizam regularmente encontros, apresentações, festivais e festas, com o objetivo de trocar idéias, festejar, dançar e tocar música brasileira.

 

Na criação desses grupos está a participação de pessoas que já assistiram, pelo menos uma vez, aos festejos carnavalescos no Rio de Janeiro e/ou em outras cidades brasileiras e que se identificaram com a nossa cultura e a nossa forma alegre de ser. Esses grupos promovem ou participam de desfiles carnavalescos, na maioria das vezes em ocasiões relacionadas com o calendário festivo das cidades em que se apresentam. A maioria dos estrangeiros engajados nesta atividade é formada por pessoas de classe média, com formação universitária e interesse intelectual em temas ligados à cultura (ciências sociais, história, música, dança, teatro, moda, jornalismo, etc.). Muitos desses grupos não tem a preocupação “purista” de se manterem fiéis a todas as características do samba, aceitando misturá-lo com outros ritmos locais e assimilando várias gêneros da família do sambas (samba-reggae, funk, maracatu, afoxé, capoeira, etc.). Muitas vezes nomeando todos esses ritmos e gêneros como samba ou batucada, tal como o termo “Batuque” era usado para designar genericamente as várias vertentes do samba no Brasil.

Contabilizou-se na última pesquisa da lista de discussão “Sambistas List”[15] e do site www.wordsamba.org, que existam em todo o mundo cerca de 900 grupos de pessoas apaixonadas pelo samba. Muitos desse grupos se diziam escolas de samba, no entanto, aproximadamente, 50 desses grupos poderiam ser considerados, de fato, escolas de samba. Cem desses grupos eram blocos carnavalescos de até 100 integrantes e o restante eram grupos de até 30 componentes que tocavam, cantavam e dançavam os vários estilos de samba.

 

Os países que mais grupos tinham na ocasião eram, respectivamente, a Alemanha, em torno de 250 grupos; seguidos da Inglaterra (180), França (155), Japão (34) e Estados unidos (17). Pelas redes sociais já é possível perceber a presença de grupos de samba em Singapura, China, Russsia, Nova Zelândia, Austrália, Noruega, Argentina, Colombia, entre outros inusitados países.

Tal como no Brasil, muitos pequenos grupos nascem e morrem com muita freqüência, como também, muitos não estão presentes na Internet, daí a dificuldade de contabilizá-los, conhecê-los e mapeá-los. Os projetos Samba Global e Portal do Carnaval, surgiram com essa proposta de mapeamento e consolidação de uma rede internacional de samba e carnaval, mas, mesmo ciente da instabilidade das informações na Internet, se observou a necessidade da mobilização de colaboradores, da criação de uma estável estrutura tecnológica e da solução de problemas de comunicação, linguagem e tradução.

 

Observamos também “in loco”, que há uma significativa quantidade de brasileiros que, por diversas razões, foram viajar pelo mundo e que acabaram se fixando no exterior, e que identificaram oportunidades de se dedicar à difusão dos mais diferentes aspectos da cultura brasileira, tirando desta atividade o seu sustento. Por essa razão, esses brasileiros têm papel importante na difusão da cultura brasileira e no ensinamento do samba e do Carnaval aos amantes estrangeiros do samba.

 

Por conta de muitos desses fatores, é que uma legião de amantes e praticantes estrangeiros do samba, aportam todo ano nos carnavais brasileiros, como turistas. Principalmente no Rio de Janeiro, esse fluxo de turistas é sabidamente crescente tanto nas arquibancadas da Sapucaí, como na passarela, se inserindo cada vez mais nos desfiles das escolas de samba para aprender e reproduzir essa cultura em todo o mundo.

 

A internacionalização do carnaval brasileiro e a expansão do samba no mundo, como vimos, é um fenômeno social contemporâneo, que tem uma dimensão cultural e econômica que é, certamente, muito maior do que presumimos. No entanto, há muito ainda a se investir e empreender na aproximação do mumdo do samba com o samba no mundo para que essa potencialidade cultural se transforme em dividendos sociais, econômicos e culturais para os sambistas de todo o mundo: a plataforma digital “Samba Global” e a consolidação da “Rede Internacional de Samba e Carnaval”, são as a nossas apostas nesse sentido.

 

[6] Acessível em: https://youtu.be/WwG4ZDCVm64[7] Acessível em: https://youtu.be/v4FEE1v1j-o

[8] Acessível em: https://www.youtube.com/watch?v=JEKtJxEEjwk

[9] Acessível em: https://vimeo.com/83747571

[10] Acessível em: https://www.youtube.com/watch?v=DsbguUjyWfY

[11] Autor do livro Carnaval, Seis Milênios de História. Ed. Gryphus.2003

[12] Embora de caráter mais intimista e vincilada ao samba de roda e ao Maculelê, os grupos de Capoeira são também responsável por boa parte da promoção internacional da cultura popular brasileira.

[13] Federação das Cidades Européias de Carnaval (www.carnivalcities.com)

[14] Outro fator usado para explicar a expansão do samba no mundo foi o fato da emigração de militantes políticos brasileiros, principalmente para a Europa, no período da ditadura militar.

[15] Pesquisa realizada no ano 2000, quando da criação da Escola de Samba Unidos do Mundo.

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